sábado, 27 de setembro de 2014

Julio Andrade e Lucci Ferreira, interpretaram Paulo Coelho e Raul Seixas




O filme Não Pare na Pista, A Melhor História de Paulo Coelho é um motivo de comemoração, pois pela primeira vez, temos Raul Seixas interpretado nas telonas dos cinemas, mesmo que não seja o protagonista. No entanto, para quem foi às telas para assistir a história dos dois deve ter ficado decepcionado, ou pelo menos quem é muito mais fã do Raul, que do Paulo.

Não há como negar, a maioria das pessoas que foram assistir o filme, pelo menos aqui no Brasil, estavam lá por causa de Raul. Na própria sessão houve essa impressão, desde malucos à senhoras com seus netos, jovens com camisetas estampadas do Raul, quando se iniciava as músicas do Raul, todos balançavam a cabeça e cantavam juntos.


No entanto, não há como negar, o Raul foi muito mal aproveitado no filme e a história contada foi obscura e cheia de inverdades. A coisa mais importante do Raul no filme, foi sem dúvida alguma a genial interpretação do Lucci Ferreira, se você enxergasse brevemente veria Raul em pessoa ali na frente, os trejeitos, a forma de falar, exatamente igual, sem exagerar ou ser mimico. Com certeza Lucci Ferreira fez um grande trabalho de pesquisa. Ele havia feito o teste para interpretar Raul Seixas no Por toda a minha vida, mas o papel ficou com Julio Andrade (que coincidentemente interpreta Paulo no filme).


Uma cinebiografia sempre contará a história sob um aspecto fantasioso, no entanto, alterar as versões dos acontecimentos, principalmente quando está relacionado a outras figuras, é muito perigoso. Raul Seixas, é o antagonista de Paulo no filme, num embaralho de cenas que chega a soar ridiculas.

Raul aparece no filme, depois da metade, o filme não segue uma linha cronologica. Um sujeito estranho de terno e gravata vai procurar Paulo em seu apartamento, Paulo estranha e pensa ser a policia, mas o encontro ocorre, até aí não há nenhum mistério, a versão é conhecida amplamente nas biografias do Raul. Em 1972, Raul ainda estava numa fase de transição, já havia conseguido colocação privilegiada com Let me Sing my Rock n Roll no Festival Internacional da Canção, e já estava iniciando as gravações do Krig Ha Bandolo, que os jornais da época ainda anunciavam como "Metamorfose Ambulante". Raul, sempre curioso, se interessava por Discos Voadores, e aquele momento era um momento em que se levantava a questão do cosmo, da exploração do Universo, dos UFOS, e etc.

Paulo num documentário a MTV, diz que Raul o apresentou "S.O.S", que o deixou apaixonado. A letra da música, cita Disco Voador, transmutação, Totens e Jesus, misturando isso tudo com o dia a dia na cidade do Rio de Janeiro. "Hoje é domingo, missa e praia, céu de anil, tem sangue no jornal e bandeiras na Avenida Zil". A música fala sobre o estado de ultrapassar barreiras, e abrir as portas da percepção. "Enquanto eu sei que tem tanta estrela por ai". Tudo isso numa linguagem simples e sem fazer rodeios.

Num outro momento vemos Paulo e Raul compondo Al Capone, começa a cantar "A justiça do Universo", frase de Paulo, sem achar melodia nem ritmo. Raul emenda "Isso está careta pra caralho, irmão". Raul então ensina a lição mais importante que receberia em sua vida, que foi ensiná-lo a escrever numa linguagem simples e direta, formula que desde então Paulo não havia utilizado. Paulo repete isso em qualquer entrevista quando fala sobre Raul.



O filme também acerta em dois pontos: O interesse de Raul na música, e utilizá-la para alcançar a "alma das pessoas", e o quanto nenhum dos dois desde então sabiam para onde estavam indo, enquanto a Sociedade Alternativa e o misticismo. O filme não inventa, mostra realmente o desinteresse de Raul enquanto a magia, "meu negócio é música" fala o Raul para Paulo. Raul traz um certo humor ao filme, que é muito sério. A cena cômica dos dois num ritual da Ordem Secreta, é cômica, os dois fazem um juramento, e vemos uma desproporção, um Raul "com medo", cena que faz até o público rir, Zéu Brito faz participação especial, o que forma a cena mais cômica ainda, no entanto, o tom de Paulo é firme, decidido repetindo as palavras de iniciação, tudo isso ao som de Sociedade Alternativa ao fundo.




Essa fase é uma das mais polêmicas, no entanto, na vida de Paulo tomou proporções muito maiores. Raul, não parece ter levado a questão da magia negra a sério e até fez piada algumas vezes, tendo dito cerca vez em entrevista que foi expulso da ordem a qual pertenceu por que enrolou um baseado num documento sagrado. Kika também já confirmou em entrevistas, o desinteresse de Raul por seitas. No entanto o ideal, Raul sugou, a fonte ideologica que ele precisava para passar suas ideias revolucionárias estavam na Lei de Thelema.



Tudo isso foi contado de forma muito rápida. No entanto, os três momentos chaves que mostram situações que não tem nenhuma relação e fidelidade com a biografia de ambos, e nesses três momentos é claro o objetivo de transformar Raul num personagem secundário, ou até "vilão". Em uma cena, Raul pede para Paulo subir no palco, e Paulo declama "A LEI", Raul sempre fez isso em seus shows após cantar Sociedade Alternativa. Onde está o erro? Paulo nunca subiu no palco para cantar nos anos 70. Isso só aconteceu uma vez e apenas foi no final da vida de Raul, lá no final dos anos 80. O filme tenta passar a idéia de que Raul passou a "bola" para Paulo, quando na verdade, quem sempre esteve exposto foi o Raul, que sempre esteve em cima do palco cantando as canções subversivas que ambos haviam feito na época. Essa cena então é intercalada com a prisão de Paulo, há uma tentativa, de mostrar Paulo como o cabeça chave da Sociedade Alternativa, a ponto de até mesmo o então Paulo, subir no palco e cantar, coisa que nunca acontecera.

Mas acontece ainda duas situações piores retratadas no filme. Que na verdade estão na mesma cena. Após a liberação de Paulo depois do interrogatório, Paulo liga para o Raul, e é avisado que o mesmo havia ido para os EUA. Paulo diz: Como assim? Então Raul aparece na abertura do fantástico (em cena original), falando sobre Gita, quando Raul fala que "fez gita", Paulo entra num inferno astral, e o filme tenta mostrar um Paulo, "injustiçado".

Não precisamos pensar muito para achar isso forçado. Raul não foi para Nova York sozinho abandonando Paulo, na verdade os dois foram juntos, isso é mostrada em videos caseiros, e também retratado até mesmo no Por Toda a Minha vida. Esse video pode ser visto no Youtube, como segue abaixo. Além disso, a letra de Super Herois, fala justamente sobre isso.



Mas tudo isso, então é fechado com o pior que poderia acontecer. É comum a situação autoral das músicas de Raul Seixas. Paulo Coelho sempre fez questão de falar que "fez" em determinadas músicas, ou "escreveu", por forma de falar, pois tratou-se de uma parceria, quando o mesmo fala isso não significa que ele "fez sozinho". O filme pega Raul dizendo "eu fiz Gita", e mostra Paulo com raiva, como se ele fosse o único autor da música, e Raul o tivesse traído, gravando a música e tomando conta da autoria, uma das piores cenas pensadas. Poderiam aproveitar Gita para fazer uma das cenas mais impactantes do cinema musical brasileiro, colocando a história da composição. Paulo Coelho no Documentário da MTV, falou que Raul compôs a música numa rede, após eles terem tido uma conversa sobre Deus, Raul pegou o violão e cantou "Eu sou a luz das estrelas, eu sou a cor do luar, eu sou as coisas da vida..." e depois os dois fizeram a letra toda juntos em questão de minutos. Isso retratado no cinema nacional, seria uma cena histórica e antologica, mas preferiram reduzir isso a uma "rivalidade", que põe ainda mais fogo na história da maioria dos fãs de Raul, chamarem Paulo de aproveitador.

A exemplo do filme Raul Seixas, O Inicio e o Meio, também não mostrou um Raul "definitivo", vamos esperar um filme biográfico de Raul, e que de preferência seja também interpretado por Lucci Ferreira.


Raul Seixas interpretado por Lucci Ferreira foi a melhor surpresa do filme.



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